Nome e identidade: uma questão de coerência

19/01/2016 08:40

Foto: pixabay.com

Depois de criar cada coisa, a primeira iniciativa de Deus foi dar-lhes um nome. À luz, Deus chamou dia e às trevas, noite. Ao firmamento, Deus chamou céu; à porção seca, terra e às águas, mares (Gn 1.5-10). Deus deu nome a Adão (Gn 5.2), que, por sua vez, nomeou os animais (Gn 2.20) e também a sua esposa (Gn 3.20). Até hoje, quando nasce uma criança, uma das primeiras providências é dar-lhe um nome de acordo com o que ela é, homem ou mulher. Identificação e identidade são importantes para não confundirmos as coisas ou as pessoas. A indefinição não é boa.

O próprio Deus tem vários nomes (Elohim, Javé, Adonai, El-Shaday, etc), os quais foram surgindo no relato bíblico, sempre relacionados à revelação progressiva da natureza divina. Diante da sarça ardente, Moisés perguntou pelo nome do Senhor. A resposta foi “Eu Sou”, um nome que revela a autossuficiência de Deus.

No Novo Testamento, somos ensinados a chamar o Senhor de Pai e aprendemos também sobre o nome que está acima de todos os nomes: Jesus, pelo qual somos libertos, curados e salvos.

Como disse Salomão, “Melhor é o bom nome do que o precioso perfume” (Ec 7.1). O nome carrega uma história, uma reputação, sendo motivo de orgulho ou vergonha. Pode representar direito e autoridade, abrir e fechar portas, tornando-se um patrimônio a ser preservado. Em nossa sociedade, temos o conceito do nome “limpo” ou “sujo”, que possibilita ou impede a obtenção de crédito.

Atualmente, os nomes também podem ser valiosas marcas comerciais, quando relacionados à excelência de produtos e serviços.

Os nomes deveriam sempre estar vinculados à identidade, ao caráter e à natureza das coisas e pessoas, mas, infelizmente, nem sempre é assim. Alguns são enganosos, como acontece com um cachorro chamado Tigre. Hoje em dia, encontramos homens com nome de mulher e vice-versa. Na Internet, existe a possibilidade de se utilizar um “nickname” ou apelido que esconde a identidade, funcionando como proteção ou disfarce.

Precisamos ser cautelosos, pois muitos rótulos bons podem ocultar um conteúdo ruim ou até venenoso. A Bíblia contém exemplos desse tipo. “Babel” significa “porta de Deus”, mas era apenas um empreendimento humano. O nome “Judas” é derivado de “Judá”, que significa “louvor”, mas o caráter do apóstolo traidor não correspondia ao seu bom nome.

Em nossos dias, as nomenclaturas são mudadas com o intuito de enganar ou atenuar a gravidade de alguma coisa. Eufemismos pretendem tornar o pecado mais suave e aparentemente inofensivo. Um nome novo dribla bloqueios psicológicos e sociais relacionados ao antigo. Assim, a prostituta tornou-se “garota de programa”; adultério virou “caso”; roubo é “desvio de verba” e a pornografia chama-se agora “nudes”. Podem trocar o rótulo da cachaça, mas a queda do bêbado continua igual.

“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo” (Isaías 5.20).

Até mesmo uma religião ou seita pode ter um nome maravilhoso que esconde uma doutrina maligna.

Além do nosso nome pessoal, ganhamos ou incorporamos muitos títulos, adjetivos e substantivos, mas qual é a nossa natureza? Quem somos e o que fazemos? Isso é o que, de fato, interessa.

Detalhe importante é que ninguém deve dar nome a si mesmo, mas recebê-lo de outrem após um procedimento natural de reconhecimento. Portanto, a primeira atitude diante de alguém que se autointitula deve ser de desconfiança seguida, talvez, por um pedido de comprovação.

“Puseste à prova os que dizem ser apóstolos e não são, e tu os achaste mentirosos” (Ap 2.2).

“Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, a ensinar e enganar os meus servos” (Ap.2.20).

Precisamos tomar cuidado com a ilusória satisfação que os bons títulos proporcionam. Eles podem ser úteis e necessários, mas não devem nos impressionar, sujeitando-nos a possíveis enganos. Respeite com cautela e observe. Jesus disse que a árvore boa produz frutos bons, mas a árvore má produz frutos maus (Mt 7.15-23). Não sejamos como algumas árvores que precisam de placas identificadoras, mas tenhamos bons frutos que testifiquem a nosso respeito.

Triste foi a situação do líder da igreja de Sardes, sobre o qual o Senhor Jesus disse: “Tens nome de que vives, mas estás morto” (Ap 3.1).

Contudo, a palavra de Deus nos traz esperança.

Diante de seu pai, Jacó disse “Eu sou Esaú”, mas, diante do anjo, precisou confessar “Eu sou Jacó”, que significa “suplantador”. Precisamos assumir diante do Senhor nossa natureza e nossos erros. Então, Ele pode nos tocar e transformar. Naquele encontro transformador, o Senhor disse “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste” (Gn 32.28).

Da mesma forma, Deus mudou o nome de outros personagens bíblicos, como Abraão, Sara e Pedro, demonstrando a mudança realizada em suas vidas.

O propósito do Evangelho é nos transformar, de modo que nos tornemos cada vez mais parecidos com Jesus. Quando este processo terminar, receberemos um novo nome, por ocasião da nossa entrada na glória celestial.

“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Ap 2.17).

“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome” (Ap 3.12).

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