Meninas/Meninos - Pais e Filhos

28/03/2011 10:37

Tal mãe, tal filha? Tal pai, tal filho?
Lidar com as exigências, críticas e opiniões da sua mãe e pai não é fácil. Mas, investir na conversa é a única maneira para acabar com a guerra entre vocês.

Parece missão impossível construir uma ponte entre o seu universo e o de seus pais? Pois vamos começar logo de cara, com uma notícia pra você: 99,9% dos adolescentes se sentem exatamente assim. Isso porque o simples fato de você e seus pais serem de gerações diferentes faz com que tenham uma visão muito particular do mundo e da maneira de se relacionar com ele. "Os conflitos existem porque os pais tendem a olhar para a adolescência dos filhos sob a perspectiva da adolescência que eles tiveram", diz a psicóloga Maria Teresa Maldonado. Mas, ainda que existam, essas diferenças não devem servir para justificar tantas brigas e mágoas, que atrapalham a relação. "Há uma barreira de preconceito muito forte entre as gerações. Os pais, em geral, acham que os mais novos são irresponsáveis, que não sabem tomar decisões. Porém, os jovens, em geral, também têm preconceito, acreditam que os pais nunca têm razão porque são caretas. O que não percebemos, muitas vezes, é que há uma riqueza muito grande na diferença, que sempre pode haver troca de conhecimentos", alerta Maria Teresa. Em outras palavras, o que ela quer dizer é que, mesmo com tantas opiniões que não batem, você e seus pais poderiam estar vivendo de um jeito muito mais gostoso, o que facilitaria a sua vida e a deles, evitando tanto estresse e lágrimas. Quer tentar?
 

DÊ O PRIMEIRO PASSO
Por pior que tenha sido a última briga entre vocês, é sempre possível juntar os cacos e recomeçar. Mas, para que essa reaproximação aconteça, é preciso que alguém se habilite, fazendo a sua parte. E por que não você? Para começar, tente reconhecer que, por mais difícil que seus pais sejam, eles também tem lá as razões deles para se estressar com você. A reconciliação só acontecerá se houver o entendimento de que, nessa história, não há certo e errado. O que existe, de fato, são só duas maneiras diferentes de pensar. "Os adolescentes, em geral, idealizam os pais, desejando que pudessem ser melhor compreendidos. E se frustram porque a família não é exatamente como esperam. Mas, dificilmente, param para refletir se estão de acordo com o que os pais desejam deles, também", diz a psicóloga Maura di Albuquerque. No fim das contas, embora a gente tenha, mesmo, um ideal de pais - assim como eles têm da gente - é pura perda de tempo querer mudar o jeito de ser do outro. Para tornar as coisas mais fáceis, o melhor mesmo é aceitá-los como são, não é verdade? Isso não significa aceitar tudo o que os pais impõem. Mas, que tal fazer isso sem desafiar a autoridade da sua mãe, colocando os seus argumentos? "Os pais aprendem com os filhos, e podem modificar muito a visão deles. Mas isso só vai acontecer quando os adolescentes desenvolverem a capacidade de argumentação", avisa Maria Teresa.
Para defender seus pontos de vista, você precisa:
1) Conversar com seus pais, ouvindo com respeito o lado deles e compreendendo suas razões;
2) Pensar exatamente no que vai dizer, expondo seus motivos e usando um raciocínio lógico para tentar convencê-los de que a sua opinião também é válida. E aí a gente aprende, com as especialistas, mais uma lição importante: é preciso mostrar que o seu ponto de vista é válido, só isso. "Os conflitos não existem porque pais e filhos pensam diferente. Mas porque um quer convencer o outro a adotar o seu ponto de vista", afirma Maura di Albuquerque. Segundo as psicólogas, essa habilidade de negociar - que a gente desenvolve também na adolescência, a partir dos conflitos - será importante em todas as fases da nossa vida, em situações profissionais, em relacionamentos afetivos, e assim por diante. Imagine que, quando tomar uma bronca de um futuro chefe, você não poderá, simplesmente, bater a porta na cara dele. Para manter o seu emprego, será preciso encarar a situação com maturidade e, principalmente, pensar na melhor saída para desfazer o climão que ficou entre vocês. Então, por que não começar a treinar esse tipo de atitude em casa, com os pais?
 

ENTENDA AS RAZÕES DELES
Um outro exercício importante - e que também vai valer para o resto da vida - é o de tentar ver o lado da outra pessoa. "Os pais nem sempre agem de acordo com o que os filhos esperam. Mas é preciso observar que estas são as pessoas que estão cuidando dela desde sempre, que lhe desejam o melhor e que estão sempre tentando acertar. É preciso ter o cuidado de tentar entender o que está por trás, o que a motivou a fazer aquilo. Quase sempre o adolescente descobrirá uma boa intenção", afirma a psicóloga Maura di Albuquerque. Para entender o que diz a especialista, tente se lembrar de um daqueles momentos em que você armou uma briga daquelas com a sua mãe, porque ela não permitiu que você fosse a uma balada qualquer. Na hora do "não", você certamente correu pro seu quarto pensando algo do tipo: "Minha mãe me trata como uma criança, não vê que eu cresci" ou "Ela não confia em mim". A reação é natural. Mas e se, depois da raiva, você tentasse descobrir, de fato, quais são as preocupações dela? Perguntando, ficaria mais fácil. E quando ela dissesse que estava preocupada com a sua segurança, com os seus estudos, ou algo do tipo, você se sentiria um pouco menos vítima, e mais preparada para a boa e velha negociação. "A vida não vai nos dar tudo o que a gente quer, sempre. Os pais nos dão liberdade, mas cobram responsabilidade. Para conquistarmos algo, teremos que mostrar que somos merecedores". Nesse sentido, para resolver os conflitos, também é fundamental mudarmos a nossa postura. Se, em vez de cobrarmos tanto do outro, pudermos doar um pouco de nós, sendo mais colaborativos, por exemplo, vamos perceber o clima ficando mais agradável. Isso pode ser feito de diversas maneiras. Você pode se oferecer para ajudar sua mãe num almoço de domingo. Ou pode convidá-la para ir ao shopping. Quanto mais próximos estiverem, mais irão descobrir coisas em comum e, dessa forma, as diferenças acabam ficando insignificantes. "Pais e filhos não precisam pensarem igual para serem companheiros e cúmplices. Mas é interessante buscarem pontos em comum. Isso dará abertura para que, nos momentos de conflito, a conversa flua com mais facilidade".
 
FAÇA PAZ, NÃO FAÇA GUERRA
Por fim, na tentativa de melhorar o clima em casa, procure olhar sempre para as coisas boas que seus pais fazem por você. Se parar para refletir, verá que o que eles pedem - respeito, atenção e carinho - é pouco perto do que você está exigindo deles. "Quando temos o reconhecimento e a gratidão, sobra pouco para as críticas e as cobranças. A relação ganha muito com isso". E se cada uma de nós puder praticar esse exercício mais vezes, começando em casa, muita coisa vai mudar, para melhor. Basta fazer diferente.

PARA FICAR NA BOA COM OS PAIS

Mais dicas práticas para facilitar o seu dia-a-dia em casa:

Maneire nas críticas. Mesmo que perceba algo nos pais que não lhe agrade, diga isso a eles como diria a uma amiga, com todo o cuidado para não magoar. Afinal de contas, pais não são saco de pancadas, né?

Pegue leve também nas exigências. Lembre-se de que eles também tem dores, dificuldades e problemas. Por isso, nem sempre poderão estar disponível para ajudar você a resolver os seus dramas.

Da mesma forma, ao perceber que seus pais estão num dia complicado, esqueça um pouco as coisas do seu interesse e coloque-se à disposição deles, para ajudar. Não é assim que você gostaria de ser tratado?

Tente não ver todos os comentários que eles fazem como palpites ou críticas. Na maioria das vezes, só está querendo ajudar.

Desista de convencer seus pais a aceitar o seu jeito de ver o mundo. Apenas aceite-os do jeito que são, e coloque também os seus argumentos.

Evite gritarias, xingamentos e qualquer outro tipo de resposta agressiva. Em geral, nada justifica desafiar a autoridade dos pais dessa forma.

Se quer mais liberdade, demonstre que tem mais responsabilidade e maturidade do que seus pais imaginam. Em alguns casos, é preciso fazer um investimento antes para receber o benefício depois.

É isso aí, agora é hora de parar de se fazer de vítima e colocar em prática.

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