Automutilação nas Redes Sociais: é hora de encararmos este tema 2

15/01/2016 08:55

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#garotastristes
Dois meses depois, quando o namorado terminou o relacionamento com ela, Aline não pensou duas vezes. “Me tranquei no quarto, peguei a lâmina que uso para fazer a sobrancelha e passei forte pela parte interna do braço. Aí virou um vício. Comecei a me cortar todos os dias e faço isso até hoje.”

“Nunca tinha visto aquilo. Fiquei com medo de ela se matar. À meia-noite, estava sozinha em casa e fiz igual”. Em julho de 2015, ela viu cicatrizes horizontais no braço de uma prima e perguntou se a menina também se mutilava. “Ela se abriu comigo e eu, com ela.” Cúmplices, as duas criaram uma conta no Instagram com um nome que remete a “pulsos” e “danos”. Nela, publicam imagens de seus braços e barrigas cortados, intercalando-se na autoria. “Acho que a dor vai sair e não sai”, diz uma das legendas escritas por Aline.

Para a psiquiatra Jackeline Giusti, especializada em automutilação e membro do grupo dedicado ao hábito do  Instituto de Psiquiatria da USP, em São Paulo, a prática está longe de ser uma modinha adolescente. “Os cortes são sempre a expressão de um outro problema”, afirma. “Normalmente estão associados a depressão, compulsão alimentar ou TOC [transtorno obsessivo compulsivo].”

Como o nível de estresse mascara a dor, explica, cada corte é seguido de uma liberação de endorfina, o hormônio do prazer. É por isso que tantas meninas relatam sentir alívio com a lâmina. Uma vez que provam essa medida desesperada, caem no gatilho da compulsão.

Na noite do dia 27 de julho, a carioca Marcela*, 17 anos, adicionou uma imagem inédita ao seu Instagram. Até então, a página tinha selfies sorridentes exibindo batons coloridos e delineadores estilo gatinho, além de óculos de armação grossa e cabelo afro acima dos ombros.

Com corpo bem torneado e rosto delicado, Marcela diz receber elogios constantes à sua beleza. Mas, nessa madrugada, em vez da menina feliz e atraente de sempre, apenas um braço iluminado pelo flash do celular apareceu na foto. O pulso tinha sete cortes horizontais, o sangue ainda fresco contrastando com as unhas pontiagudas pintadas de nude. “Postei logo depois de cortar. Quis mostrar para todo mundo que não sou bonita por dentro.”

O motivo era a rejeição do namorado, com quem ficou por quase dois anos. A briga se estendeu por dias, sem que Marcela entendesse o porquê do término. Na escola, depois de conversar com o rapaz, ficou tão nervosa que começou a puxar os cabelos com força, até ficar com chumaços de cachos na mão. Dentro do banheiro, cravou as unhas nos antebraços e deixou neles marcas vermelhas de desespero. A coisa evoluiu para arranhões e, então, para os cortes.


Para a psiquiatra Jackeline Giusti, a prática está longe de ser uma modinha adolescente. “Os cortes são sempre a outros problemas, como depressão, compulsão alimentar ou TOC [transtorno obsessivo compulsivo].”  (Foto: Reprodução / Instagram)


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