A Batalha de Todo Adolescente...Automutilação: É possível se viciar?

11/10/2013 10:14
 
 

Meu terapeuta e eu começamos recentemente a trabalhar no meu vício em álcool. Uma sessão foi particularmente dura e me deixou louca por um drink. Porém eu também queria me auto-mutilar. Era uma forma de lidar com o que estava passando, era minha maneira de lidar com a dor. Eu então me perguntei: "Eu poderia estar viciada em me cortar?"
 
A personalidade viciante e o TPB
 
De acordo com o site HealthyPlace.com, um sintoma do transtorno de personalidade borderline (TPB) é "impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente auto-destrutivas". Ele frequentemente se manifesta como abuso de substâncias ou vício. Apesar da auto-mutilação não estar incluída neste critério, a personalidade viciante existe se a pessoa atende a esse critério. A auto-mutilação, outro critério para o TPB, pode tomar o lugar de qualquer substância facilmente.
 
A pessoa viciada em auto-mutilação provavelmente tem seus rituais. Ele ou ela possivelmente tem um método favorito, como se cortar, queimar ou bater a cabeça. Ele ou ela provavelmente tem uma faca ou isqueiro favorito. Pode ser que também tenha um ritual, sempre começando e terminando no mesmo lugar. Essa pessoa pode ficar muito chateada se este padrão for interferido.
 
Apesar da pessoa ter uma preferência no modo de operação, isso não é  essencial. Alguém que seja viciado em auto-mutilação irá fazê-lo de qualquer forma ou lugar possíveis. O importante é o ato em si e os sentimentos que o cercam, não os meios.
 
Por que se mutilar?
 
Já se foi dito que a auto-mutilação faz com que o corpo libere endorfinas, as mesmas substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar e prazer sentida por corredores devido à liberação destas substâncias. As endorfinas basicamente fazem com que o corpo se sinta bem. Essa é a razão de muitas pessoas praticarem a auto-mutilação - para se sentir bem. Eu já ouvi algumas vezes ser dito: "Eu queria sentir alguma coisa ao invés de nada.
 
Eu me mutilo porque estou com medo. Acredito que se não temo a dor física, eu posso ultrapassar a dor emocional de uma situação e agir para me proteger e aqueles que eu amo. Culpo-me por não ser capaz de proteger meus amigos e família, então faço o que eu sinto que tenho que fazer para tornar-me forte e calar as vozes dizendo: "Você falhou em mantê-los a salvo, é sua culpa."
 
Eu também me machuco porque é uma forma de me manter com os pés no chão, ou trazer meu corpo e minha mente de volta a realidade durante um episódio de dissociação. Novamente, é para que eu aja a fim de me proteger - fico extremamente vulnerável quando dissocio. Se não estou assim, então posso ser forte e me proteger e à minha família e amigos.
 

Confrontando o vício
 
Gostaria muito de saber como fazer isso. Até agora estou tratando-o como trato de meu alcoolismo - pedir ajuda quando necessário, tentar usar a força de vontade e conversar sobre o assunto na terapia. É tudo que posso pedir de mim mesma.
 
Acredito que saber a razão para um vício é uma ferramenta poderosa para derrotá-lo. Se admitir seu problema é o primeiro passo para a recuperação, então entendê-lo é o segundo. Isso não é sempre fácil de fazer - o vicio é ardiloso, poderoso e desonesto. Entretanto, compreender a razão para o vício é uma arma potente porque você sabe qual é a sua fraqueza. Sabe qual necessidade que está tentando preencher e pode encontrar outras formas de ter a sensação que você quer. Por exemplo, no meu caso pode ser estudar artes marciais. Se me sinto vulnerável, talvez eu possa achar força ao estudar defesa pessoal.
 
Seu caso pode ser diferente. O que funciona para mim pode não funcionar para você e vice-versa. Mas há algumas semelhanças em lutar contra um vício de se mutilar - precisamos reconhecer que temos um problema, aprender a lidar com os sintomas dele e viver em recuperação um dia de cada vez. Não precisamos ser duros com nós mesmos quando temos uma recaída e precisamos querer sempre nos dar uma segunda chance.
 
(tradução livre do artigo "Is it possible to be addicted to self-injury?", no blog da Becky, no Healthy Place.)
 
 
* Eu me corto para fugir da dor, da angústia. É quase como fumar um cigarro, tem aquele efeito relaxante. Aí vocês podiam me perguntar: E porque você não fuma ao invés de se cortar? Porque a sensação é diferente. Ver o sangue aparecendo na minha pele, o ardor, me faz sentir estranhamente viva. Não sei se substituo uma dor pela outra, não sei se existe alguma outra razão. Minha psicóloga já me disse que tenho várias rotas de fuga: beber, fumar, me cortar, que eu precisava saber enfrentar o que eu estava passando. Porém quando fico muito mal eu não encontro forças, fico procurando um alívio imediato, que certamente passar a gilete na minha pele me dá. Estou um pouco receosa pois o ato já está se tornando meio... automático. É como se fizesse parte de minha rotina, as vezes.
 
Não tenho um "modus operandi". Corto-me no lugar onde eu já sei que vai sair mais sangue, o que infelizmente para mim é no antebraço. Consequentemente acabo com cicatrizes mais visíveis, o que está me fazendo dar aulas com casacos, o que é meio duro de se explicar visto que moro em Recife.
 
Não pensem que não luto contra. Geralmente fico tentando adiar, tipo, "vou fumar este cigarro e aí me corto", "vou ler este texto e aí me corto", "vou tratar da minha gata e aí me corto", isso muitas vezes funciona. Agora mesmo, por estar escrevendo sobre o assunto, está me dando vontade de me cortar, mas tô tentando adiar. Já ouvi falar que colocar um gelo na mão ajuda, mas nunca tentei. Também me falaram sobre tomar um banho frio, penso em tentar esse, tem tbm o Projeto Borboleta, onde você desenha borboletas nos lugares onde costuma se cortar e caso se corte em cima delas, tem que meditar que "matou" aquela borboleta. Achei super legal. 
 
Enfim, enfrentar o cutting é difícil mas temos que ter fé. Afinal de contas, sem isso, para que estarmos vivos, não é?
 
Lembrando...O motivo que escrevo é para tentar ajudar.
Se vc conhece alguém que passa por isso, tente ajudar conversando e sendo amigo.
Se vc é uma pessoa que se corta, eu quero conversar, quero tentar te ajudar de alguma forma.
Me procura, me conte, desabafe.
Cel. 8416-1366 (sms se quiser)
michellypinheiro@hotmail.com
Caso não queira se identificar...

 

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