A Batalha de Todo Adolescente...“É um fogo que queima intensamente em você” !

O cutting é um tabu ainda. Mal interpretado e julgado por muitas pessoas, apesar de cada vez se tornar mais comum entre meninas e meninos! Pra quem não sabe, cutting nada mais é do que a auto-mutilação, “cutting” é a expressão em inglês que eles usam na internet pra denominar o ato.
A pessoa que me mandou esse e-mail, pediu pra não se identificar, até porque ela escreve pedindo ajuda a uma amiga – e foi isso que me chamou mais atenção.
E ela diz assim:

“A minha amiga gostava de um menino durante muito tempo. Depois de uns 6 anos gostando dele, eles finalmente namoraram. Só que ele deu um pé na bunda dela muito feio! Ele terminou por sms. Ela ficou muito deprimida e começou a se lamentar como se o erro fosse dela e começou a se cortar.
Eu queria saber como faço pra faze-la parar! Pois ela simplesmete faz sem pensar.”

Pros que estão de fora é impossível imaginar o que se passa na mente de quem pratica o cutting. Me sinto até incomodada ao usar a expressão “cortar os pulsos” e não sei explicar bem porque. Por uns segundos tento entrar nesse universo pra escrever, da melhor forma possível, pra pessoas tão fragilizadas emocionalmente. Eu sei que provavelmente não serei eu que vou impedir de que continuem com isso, ainda mais se tratando de um blog. Realmente, quem sou eu? Eu não sou algum membro da família, que chora e sofre por você. Eu não sou sua amiga, que te dará um conselho especial e um abraço. Da mesma forma, eu não sou quem vai jogar na sua cara que isso é errado, nem quem vai te julgar e comentar sobre sua insanidade. Eu sou alguém de fora. Eu sou, nesse momento a sociedade. Sou quem vê de fora, que sabe o simples – e embora simples, vejo milhares de oportunidades. Pois vejo um ser humano, do qual talvez eu nem saiba o nome. E eu sei que como qualquer ser humano, você passa ou passou por dificuldades, que podem ter te destruído por dentro. Ou simplesmente você não precisou que nada acontecesse – simplesmente percebeu que por falta de algo, seja até problemas, a monotonia te levou a achar que sua rotina é imperfeita. Não espere que esse seja mais um desabafo de alguém que sente pena ou suplica por ajuda divina. Afinal, poderia falar o óbvio, até porque o mesmo seria genial. Pra quem lê não pra quem sente, pra quem vive. Do que vai adiantar eu escrever uma poesia sobre o seu valor no mundo, se no final do dia, fulano vai estar no banheiro fazendo o que sempre faz, pra aliviar a dor de mais uma pessoa que não te entendeu. Mas e você, fulano, se entende?
Não. Então trate de resolver. Porque assim como tudo na vida, só você tem a chave pra saída de todos os seus problemas. E não adiantarão discursos, choros, se no final a única pessoa prejudicada é você. Se no final a única que sofre é você. Independente e crer ou não em algo, se você faz porque se sente sozinha, porque alguém te faria companhia quando você se isola? E não se permite viver saudável pra aproveitar um tempo, que é tão curto?
O mais estranho é ver depoimentos de quem diz: “Eu não quero morrer, eu quero apenas aliviar a dor” e substituindo por outra física, seu emocional fica melhor? Não por muito tempo, não até o buraco abrir novamente.
Você pode até tentar cobrir com pó, uma espinha. Mas sabe que no final do dia, quando a maquiagem derreter, ela vai voltar a aparecer. E por sorte não aparecerá num estado pior. Mas não tem problema,tem pó o suficiente pra cobrir quantas espinhas forem necessárias, não é mesmo? Até quando você vai esconder seu sofrimento? E tapar o sol, com uma peneira?

Hoje vou contar como foi a experiência da Jana, o que ela sentia, o que a levou e como ela fez pra sair disso tudo. Então já vou agradecendo pela coragem e dizendo que eu estou muito orgulhosa por você ser quem você é!

Janaína Linda, 14. Rio de Janeiro
– “É um fogo que queima intensamente em você”
Você vai deixar o fogo te queimar ou vai controlar ele? Não tem como ser feliz se cortando. Sério, eu ja tentei equilibrar e terminei como sempre; limpando o sangue e fingindo que os cortes não existiam, pra qualquer um que olhasse. Era um alivio inexplicavel, havia momentos, frações de segundos em que eu ficava obcecada pelo sangue, sempre lambia, gostava do sabor. Era como se eu pudesse pegar toda a turbulencia de emoções e pensamentos confusos e simplesmente ceder a dor, ceder ao alivio dela mesmo que de uma maneira ilusoria e por pouco tempo, e é por isso que cutting vicia. A depressao em seu pior estágio me levou a pegar uma tesoura e me cortar. Bem, um amigo meu me fez prometer que eu ia parar e eu fiquei 1 mês inteiro sem me cortar, o que pra mim era muito. Isso foi em outubro ou novembro do ano passado. Mas eu voltei. Eu finalmente parei em fevereiro de 2014. Acho que a pior parte foi aceitar que isso nunca seria normal, as pessoas nunca iriam ver seus braços, pernas ou quadris, com cortes e ficar de boa – ou iam tentar me humilhar ou nao ligariam. Pra quem ta acostumado com essa vontade, uma hora isso se torna normal pra essa pessoa, é como se fosse uma amizade, porque veja bem, você quer que só a lamina, ou as laminas, saibam seu segredo e ate certo ponto, é verdade, elas sao as únicas ali nos momentos que nem você se entende. Nos momentos que, tipo, tem aquele furacão de emoções tão diferentes, e tantas ao mesmo tempo…. É simplesmente muito, ninguem aguenta, a parte emocional é a que mais se desgasta, mais do que a mental ou física. Bem, chega uma hora que você percebe que isso não ta fazendo um bem realmente. Que ninguém merece seu sangue, nem você, nem suas culpas, as merdas que voce fez, seus defeitos…nada. Tudo é perdoavel. Você tem de parar, porque senão, uma hora isso vai quase matar você, e qunado isso acontecer você vai perceber que nao quer morrer. Não! você só quer viver, e muito, não se sentir sozinha. Entao você tem de parar e pensar muito no que vai fazer, pra sair dessa com dignidade e força e amor próprio.