Amar é como atravessar a rua de olhos vendados

16/04/2015 08:50

Foto: internet

A vida nunca nos deu garantia alguma de que um dia seremos “felizes para sempre”. Não existe um pacto ou contrato assinado que nos assegure que todos os nossos planos darão certo, que nossos dias serão sempre de sol. Ou, então, que seremos tratados de forma mais justa por sermos bonzinhos, honestos ou espirituais. Entretanto, pensamos e alimentamos em nosso coração o sentimento de que coisas ruins nunca acontecerão conosco.

Ignoramos o fato de que nada, a não ser Deus, é para sempre. Como diria o pastor Neil Barreto: “Viver é ser um, não ser pra sempre. Somos seres em construção, mudamos constantemente e caminhamos existencialmente para o fim”. A vida é ambígua, coisas começam e coisas terminam. Por isso, mesmo que estejamos vivendo dias de festa e felicidade, não devemos ignorar a existência do dia mal. E o oposto também é verdadeiro, mesmo que estejamos vivendo o dia mal não podemos ignorar a existência do dia bom.

Nosso grande problema é que estamos muito mais preparados e dispostos a vivermos os começos do que os finais; os encontros do que as despedidas; o nascimento do que a morte. Quando começamos um relacionamento, nunca consideramos a hipótese do fim. Na verdade, tudo o que queremos é passar o resto da vida juntos. Fazemos juras de amor, idealizamos planos de ir para a mesma faculdade, casar, ter filhos, netos e envelhecer juntos. E onde se encaixa a morte e a perda? Nem sequer passa pela cabeça! Sejamos honestos, a vida é uma caixa de surpresa e amar é como atravessar a rua de olhos vendados.

Nosso futuro é construído na esperança de que aquela pessoa com quem estamos hoje também estará lá amanhã. Entregamo-nos sem reservas, saltamos a dez mil pés de altura e, muitas vezes, só lembramos que não colocamos o paraquedas quando já estamos esborrachados no chão. Tememos o fim das coisas a ponto de não admitirmos sua existência e, muitas vezes – na maioria das vezes –, só lembramos que relacionamentos acabam e que essas coisas também acontecem com a gente quando estamos sozinhos, juntando nossos pedaços.

Quando comecei a escrever, queria falar sobre como superar o fim de um relacionamento. Não consegui! Ou talvez até tenha conseguido ao propor que vivamos dias felizes, aproveitemos a festa, o beijo, o abraço e o cheiro, mas que nunca sejamos ignorantes em não admitir que tudo isso pode ser apenas saudades amanhã. E, por isso, vale a entrega, desde que estejamos tão dispostos a viver a parte ruim do existir como estamos dispostos a desfrutar da boa.

Talvez a melhor forma de superar o fim é ser cauteloso no começo. Pisar no freio, engatar a ré quando preciso, dar passos menos largos, reservar mais o coração, abrir o paraquedas e curtir por mais tempo o voo. Quanto menos nos entregamos, mais provocamos no outro o desejo da conquista. Por outro lado, quanto mais nos entregamos, mais o outro se acostuma com a mesmice e com a ausência de novidades. Se entregue menos no começo. O grande problema da juventude moderna é mergulhar fundo em amores rasos!

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