A Batalha de Todo Adolescente...Lutando com um leão

07/11/2014 09:14
Bom dia, estão gostando dos depoimentos?
Com eles podemos ver que existe sim, jeito de vencer.
Vamos para mais um?....
 
Eu me chamo Fabiana, tenho 22 anos e por quase dois anos sofri/sofro com a automutilação. Tive uma forte depressão logo após meu aniversário em 2011. Estava num relacionamento que não andava lá grandes coisas e quando ele me deixou, depois que fiquei deprimida, tudo ficou mil vezes pior. Foi aí que procurei ajuda psicológica. Pensava frequentemente em fugir pra bem longe, me jogar de um lugar alto, dormir por mil anos ou simplesmente desaparecer. Nesse tempo já me cortava mas não com muita frequência. Me lembro que em uma das consultas com o psicologo do Cras, ele me perguntou porque eu havia feito aquilo: porque havia cortado meus braços com cacos de vidro. E eu disse que queria me punir, que afinal de contas merecia, que devia ser louca e que estava com muita raiva por querer tanto uma pessoa (meu ex) que só me desprezava. Conversamos sobre a questão do vazio que eu vivia reclamando; minhas expectativas; minha carência; a separação dos meus pais que vivia me assombrando; meu sentimento de culpa por não lhes ter dado felicidade (como se fosse minha função); minha guerra diária contra mim mesma; minha visão distorcida da minha própria imagem… ( “só queria ser normal” dizia) e um tanto de outras coisas que naquele momento sufocavam minha existência. Em algumas semanas, ele me encaminhou para um processo psicoterapêutico. 
 
A primeira vez que conversei com a psicológa, me lembro de mostrar a ela os cortes em meus braços e dizer ” Me ajuda, por favor, me ajuda. Olha só o que eu fiz comigo…” e chorar desesperadamente. Eu estava despedaçada e não tinha o minimo de auto estima e amor próprio. Estava muito cansada e só queria descansar… ou seja achava que se eu morresse ficaria bem. Me sentia como se tivesse 80 anos de idade, como se já tivesse vivido bastante e como se não me restasse mais nada. Sentia muita falta do meu pai (que mora longe), e da minha mãe (que apesar de perto, era meio distante) e claro muita falta do Rafa (meu ex, que quando decidiu sair da minha vida , saiu pra sempre. Apesar de no inicio dizer que só queria “um tempo”…). Sentia falta deles, e a minha solidão era absurdamente esmagadora e achava que se fosse parar num hospital de tão doente, teria os três de volta, ao meu lado. Pasmem, mas era um preço que estava disposta a pagar. 
 
Por duas vezes, realmente fui parar no pronto socorro. Tentativas (frustradas) de suicídio misturando tarja preta com cerveja; e tomando cartelas completas do rivotril. A primeira vez passei a noite no hospital, e da segunda vez fiquei umas horas e a Drª me disse que se aparecesse lá pela terceira vez ela sequer me atenderia mas me encaminharia direto para uma clinica psiquiátrica. Talvez só quisesse me assustar. Mal sabia ela que eu não me importava de ter que ir para lá. Mas quem segurou minha barra foi a minha mãe. Ela jamais deixaria eu precisar passar por isso. Me lembro do meu pai, chorando pelos corredores do hospital dizendo o quanto eu estava feia… e magra… e doente… e o quanto ele estava triste de me ver assim. Rafa nunca soube e também nunca apareceu. Nessa época eu me cortava praticamente todos os dias. Era difícil lidar com tudo aquilo. Perdi alguns semestres na faculdade, dos quais me arrependo até hoje. Tive crises sérias, tinha lâminas escondidas por todos os cantos do meu quarto, me cortava na rua atrás de carros, dentro de ônibus ou em banheiros públicos. Me cortava até sangrar e até ficar “satisfeita”. Uma vez sangrou tanto que fiquei com medo e liguei para o pastor da igreja que costumava ir. Tenho essas cicatrizes até hoje.
 
Com o tempo e com muita força de vontade (que eu realmente não sei de onde tirei: Deus, acredito) consegui recuperar o controle da minha vida. Remédios e mais remédios, terapia de duas a três vezes por semana, acompanhamento psiquiátrico, amigos, fé e família: foi o que me ajudou a voltar a viver bem. Mas se cortar ainda me persegue. Afinal é um vicio e como todos os outros leva tempo pra se curar. Luto contra isso todos os dias. Tenho fases em que fico meses sem me cortar e depois tenho recaídas. Da última vez, fiquei seis meses. Mas tive uma recaída, mas apenas arranhei os braços dessa vez e está tudo sob controle, logo será um mês sem cortes (a gente recomeça do zero) e logo já serão seis meses outra vez… quem sabe um ano.
 
Consegui um emprego ( concurso) que eu surpreendentemente amo. Fiz novos amigos. Estou avançando na faculdade e às vezes até me permito paquerar um pouco. Não tomo mais remédios, e há tempos não vou ao psiquiatra. Mas da terapia, admito que sinto falta e em breve pretendo voltar a fazer. Estou muito feliz com o lugar que conquistei e com a minha qualidade de vida hoje. E sim, acreditem EU ME AMO. Apesar de ter as cicatrizes comigo; apesar de não ter a família perfeita; apesar do Rafa nunca mais ter aparecido na minha vida; apesar de ter passado por tudo o que passei EU ME AMO. Gosto de me vestir bem, amo meu cabelo (não acredito que eu cortei ele praticamente todo, que bom que cresceu), amo o blog, adoro ler, escrever. Antes eu achava a solidão algo terrível, mas hoje eu adoro a minha companhia. Estou fazendo de tudo para cuidar melhor de mim, e vou fazer mais… afinal eu me odiei por tanto tempo que agora tudo o que quero é recuperar o tempo perdido. 
 
Me lembro que na sessão de terapia, Paulinha me dizia “você está lutando com um leão mas se você se esforçar e lutar com ele todos os dias logo será um gatinho, ainda vai estar lá mas não vai lhe oferecer nenhum risco.”
 
Bem, é isso… continuem lutando.

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